quinta-feira, 12 de março de 2015
Gasto com Fies cresce 13 vezes e chega a R$ 13,4 bi, mas ritmo de matrículas cai
05:17
Saulo Rodrigues
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Gasto com Fies cresce 13 vezes e chega a
R$ 13,4 bi, mas ritmo de matrículas cai
Criado em 1999, o Fies teve uma explosão de contratos após mudanças promovidas em 2010 para elevar as matrículas na rede privada,
conforme anunciado na época.
"O Brasil precisa chegar a 10 milhões de matrículas no ensino superior", afirmou o então ministro da
Educação, Fernando Haddad (PT).
Os juros caíram de 6,5% para 3,4% ao ano, abaixo da inflação. Além disso, o financiamento pôde ser
obtido a qualquer momento, a exigência de fiador foi relaxada e o prazo de quitação, alongado.
Levantamento do Estadão Dados, com base em informações do Portal da Transparência e microdados do Censo da Educação Superior,
mostra que, desde então, o número de alunos no Fies subiu 448% de 150 mil, em 2010, para 827 mil em 2013, último ano em que há
dados do censo.
O total de alunos na rede privada subiu apenas 13% de 3,9 milhões para 4,4 milhões.
A explicação é que muitas faculdades passaram a incentivar alunos já matriculados a não pagar a própria mensalidade, mas a entrar no
Fies que, por sua vez, repassa os valores diretamente para as instituições, sem atraso ou inadimplência.
Enquanto as empresas têm
dinheiro garantido, a dívida fica com o aluno e o risco, com o governo.
Para incentivar a adesão ao programa, as universidades usaram várias estratégias: distribuição de tablets, feirões para
explicar o financiamento e até prêmios para quem indicar um amigo.
As novas regras, porém, estimulam até quem não precisa entrar no
programa, uma vez que os juros abaixo da inflação fazem com que o montante a ser pago no futuro seja menor do que o custo da
mensalidade atualmente.
A consequência das novas regras foi o forte crescimento nas transferências para grupos de educação.
O KrotonAnhanguera, por
exemplo, foi a empresa que mais recebeu pagamentos do governo federal em 2014. Doze mantenedoras do grupo receberam juntas mais
de R$ 2 bilhões o dobro do que a Embraer, que fabrica aviões militares, e a Odebrecht, responsável por dezenas de obras pelo País.
Outros grupos também figuram entre os líderes de desembolsos do Tesouro em 2014, como a Estácio (R$ 683 milhões) e a Unip (R$ 390
milhões).
O total a mais gasto com o Fies de 2011 a 2014 em relação ao que se gastava antes das mudanças chega a R$ 24 bilhões o
suficiente para operar uma instituição do porte da Universidade de São Paulo (USP) no período.
Segundo o professor Celso Napolitano, presidente da Federação dos Professores do Estado de São Paulo (Fepesp), a relação das
instituições com o Fies é de "capitalismo sem risco". "Elas não precisam competir por preço, não têm dificuldade de reajustar valores, não
têm crise nem problema com aluno."
O especialista em ensino superior Carlos Monteiro, da CM Consultoria, explica que a expectativa de expansão no número total de
matrículas não se concretizou. "O que a maioria das instituições acabou fazendo foi transferir para o Fies aquele aluno que dava
desconto, que era bolsista", diz.
Fonte: Estadão.
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